05/07/2009

Dóris Monteiro 1957 “Dóris Monteiro” [Columbia LPCB 35045]

O Brasil possui cantoras magníficas, mas dentre todas elas, há uma que merece todo o nosso carinho e destaque. Trata-se da grande Dóris Monteiro, que ainda hoje canta, com 55 anos de atividade profissional, ela está cantando lindamente por sinal, com o mesmo brilho, o que mais uma vez nos enche de alegria e orgulho! Por este motivo trazemos este LP aqui - novamente uma colaboração do grande amigo Clóvis de Curitiba, nosso imenso obrigado!

Este é um LP pouco conhecido de Dóris Monteiro, no formato de 10 polegadas, lançado em 1957. No repertório está, entre outras preciosidades, a gravação original de “Mocinho Bonito”, um clássico de Billy Blanco, grande sucesso na época e considerada como uma das gravações inaugurais da bossa nova. A matriz deste disco, se existir, está escondida nas prateleiras empoeiradas do que restou do acervo da Columbia. Apenas mais um exemplo do descaso histórico com a nossa música. Excluindo “Mocinho Bonito” os outros fonogramas não foram até hoje relançados em nenhum formato. Portanto, trata-se de uma jóia rara.
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Em 1957 Dóris Monteiro já era uma grande estrela, e havia sido eleita Rainha do Rádio por dois anos consecutivos. Seu “fio de voz”, como diziam alguns colegas, era também a marca de uma cantora moderna e sofisticada, que sabia ser ao mesmo tempo simples e sofisticada, e muito popular, agradando a todos os ouvintes, técnicos, produtores e colegas músicos da nossa Era do Rádio. Além de cantar também atuou frente ao microfone como locutora e disc-jokey [!] e também fez sucesso nas telas de cinema como atriz, chegando a ganhar prêmios. Uma bela trajetória. Ainda nos anos 40, podia ser apenas uma menina com a mãe sempre ao lado “de guarda”, mas quando cantava, transmitia poesia pelas ondas do rádio. E é assim neste disco. Dos primeiros acordes de “Faça de Conta”, bonita composição de Fernando César, até o último segundo da enfumaçada “Meu Tema”, de Édson Borges, este disco é todo, uma grande beleza.

Aqui, ela registrou duas composições de Maysa, que recém havia surgido no cenário musical como um furacão de sucesso e expressão artística. São duas músicas do primeiro disco da Maysa, lançado um ano antes: “Marcada” e “Resposta”. Duas belas composições, que ao ganharem interpretação da já experiente colega, são prova do quanto reverenciada Maysa foi no meio musical, ao mesmo tempo em que fazia enorme sucesso popular. As interpretações de Dóris Monteiro para estas duas canções são belíssimas, muito particulares, com toda a sua personalidade musical. Vale lembrar que Maysa ainda não havia gravado nem o seu segundo LP quando Dóris Monteiro lançou este. Uma bela homenagem, que deixou Maysa muito feliz. Que compositor não gostaria de ter uma música sua interpretada por Dóris Monteiro? Elas chegaram a dividir o microfone nesta época em programas no rádio.

“Dóris Monteiro” é um LP belíssimo, é a música brasileira elegante dos anos 50. Durante muitos anos se criticou o samba-canção, ainda hoje é tido como um estilo menor, cafona, sem importância. Há quem diz que se aparenta do tango e do bolero, que o piano tem vibrato, que a orquestra desliza, que as letras são melosas, ou até mórbidas o que for... Nada disso importa! Quem não tem sentimentos que não sinta... há quem sente, isso sem dúvida! A voz, mesmo que por “um fio”, tem a toda a doce dimensão da poesia daqueles dias. Mesmo que nem todas as canções sejam espetaculares como “Mocinho Bonito”, “Resposta” ou “Faça de Conta”. A contracapa é outra atração, com texto assinado pelo compositor Fernando César, onde certa altura ele afirma - “...Dóris não é nada daquela ‘figura para Ibrahim ver’... ...humana, dá-se ao luxo de acumular as qualidades de mulher bonita e inteligente...” - impregnado pelo machismo da mentalidade da época.

Dóris Monteiro, o maestro Eleazar de Carvalho e o cantor Lúcio Alves - início da década de 50.

Os arranjos do disco são incríveis, vem com a assinatura da orquestra toda original de Renato de Oliveira. Há violinos, acordeons, sax, percussão em primeiro plano e piano, tudo arranjado no maior capricho, como convém ao maestro, abrilhantando as composições. Uma preciosidade - que mais dizer de um disco que reúne a orquestra de Renato de Oliveira, mais a voz de Dóris às composições de Fernando César, Maysa, Billy Blanco, Édson Borges, Eduardo Luiz e Amado Régis?

Na incrível “Minha Obsessão” [de Nando e J. Marques] a voz cheia de estilo, enche o ambiente atravessando o espaço - chega a arrepiar - Dóris canta uma letra que traduz perfeitamente a atmosfera geral: “...é obsessão / é atroz, é cruel, é fatal / é um doce veneno que embriaga, seduz e afinal / mata lentamente como a flor cheirosa de espinhos mortais... / ...é melhor que eu procure esquecer / o que só desenganos me traz / terminemos sim, e outro amor, nunca mais!”

Dóris Monteiro 1957 “Dóris Monteiro” [Columbia LPCB 35045]

01 Faça de Conta [Fernando César] bolero
02 Marcada [Maysa] samba-canção
03 Real Conclusão [Eduardo Luiz, Amado Régis] toada
04 Mocinho Bonito [Billy Blanco] samba
05 Resposta [Maysa] samba-canção
06 Minha Obsessão [Nando, J. Marques] bolero
07 Só Pode Ser Você [Fernando César] fox
08 Meu Tema [Édson Borges] beguine

Arranjos e orquestra sob regência do Maestro Renato de Oliveira

10 comentários:

mariana disse...

Parabéns pelo blog! Não sei muito bem o que dizer, mas quero dizer te que é muito bonito preservares a cultura e dedicares um tempo teu para isso. Abraços!

Thiago Mello disse...

Muito obrigado Mariana!
Um abração!

Anônimo disse...

don't speak spanish, but tnx for the nostalgic LP's, grtz from holland : najir

Unknown disse...

É bem interessante a Biografia e a Discografia da Dóris.

Jazzfan37 disse...

Thank you very much for your work (from Italy)

cla-cla... disse...

Cara, parabéns pelo trabalho voluntário e apaixonado de vocês, é isso o que alimenta a rate, a paixão e o gosto e a dedicação por aquilo que se faz. muito interessante a pesquisa sobre dóris monteiro, vou baixa os albuns, sim, aquele abraço!!

Unknown disse...

Boa noite.... Gostaria de ter notícias da Doris Monteiro, gosto muito dela e perdi o contato.
Quem souber como fazer, por favor me avise, Atenciosamente,
Teresa Cristina Piva
Meu email: teresapiva@ig.com.br

Anônimo disse...

Me gusta mucho su blog.
Este de Monteiro es excelente. Seguiré escuchando estas joyas y agradeciéndole.
Muchas Gracias.
Alberto.

vale a pena disse...

Puxa! Obrigada por existir este blog, que vc faz com tanta sensibilidade e conhecimento da nossa música.

Marcio Lacombe disse...

Muito bom. Toda razão ao dizer que "Mocinho Bonito" cantado pela Doris é com certeza o início da bossa nova. O arranjo é maravilhoso e tem um balanço que não existia na época, talvez só com "Rapaz de Bem" com Johnny Alf."Mocinho Bonito" com Doris, é um marco na mùsica brasileira.