19/11/2008

Paulo Tapajós 1956 “Melodias Imortais de Joubert de Carvalho” [Sinter SLP 1082]

É com grande felicidade que apresentamos este disco de 10 polegadas gravado por Paulo Tapajós e lançado pela gravadora Sinter em 1956. Raridade histórica, este LP traz interpretações únicas para canções do mestre Joubert de Carvalho. São valsinhas, canções seresteiras e toadas, arranjadas para orquestra, côro e pequeno conjunto pelo mestre das batutas Léo Peracchi - que segundo Paulo, no texto da contracapa, realizou a sobreposição de arranjos diferentes na mesma canção, em algumas das faixas. Somente pelas presenças de Paulo Tapajós e Léo Peracchi executando o repertório de Joubert de Carvalho, este disco já seria um clássico, mas consegue ir além. A beleza das faixas, a leveza dos arranjos, a voz econômica - sem a costumeira impostação exagerada da época - a delicadeza geral com que foi gravado, já mostra se tratar aqui, de mais um dos clássicos esquecidos da nossa discografia histórica.

Os músicos não são creditados, mas o instrumental é estupendo. Há um belo violão, diálogos entre vibrafones, clarinetas e flautas, e até mesmo solos de guitarra elétrica. A orquestra completam a massa sonora, com desenhos belíssimos, completando o efeito sublime das gravações.

“Olha-Me Bem Nos Olhos” abre lírica com a orquestra se desdobrando em coloridos inesperados, emoldurando a bela poesia de Aldemar Tavares: “...Mas quando eu repousar em cova rasa / E Deus, estrela ou flor, fizer de mim... / Estrela, eu fico sobre a tua casa / Flor humilde, abrirei no teu jardim...”

“Hula” é uma valsa hipnótica, com vibes, guitarra havaiana - a música foi certamente inspirada em melodias daquelas ilhas - além de côro feminino completando a beleza da composição com letra do poeta Olegário Mariano. Já “Nhá Maria” começa evocando música de câmara, com suas linhas de violinos e oboés, até se transformar em uma toada brejeira, misturando piano, solos de violinos e acordeons. Trabalho incrível de brasilidade única do mestre Léo Peracchi, que surpreende também na famosa “Maringá”, com arranjo composto apenas de vozes, com Paulo solando e o côro misto executando a melodia.

A deliciosa “De Papo Pro Á” foi gravada com pequeno conjunto, com percussão, baixos e sopros em primeiro plano, marcando a melodia famosa em arranjo belíssimo. Em “Taboada”, o clima volta a ser melancólico, novamente a orquestra completa é chamada em primeiro plano. Uma das mais lindas canções de Joubert de Carvalho é “Dor”, registrada aqui com grande delicadeza, em arranjo alternando entre o brejeiro e o barroco, com acordeons e os vibrafones passeando pelo ar e a melodia revelando o compositor também como grande poeta: “...diz alguém, que não tens morada / que andas aqui e acolá, qual paloma abandonada / onde moras, dor cruel pungente? / é na casa da saudade, onde vive tanta gente...”

“Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá...” “Cantigas da Minha Terra” fecha o disco com Paulo Tapajós cantando em meio a flautas, solos de harpa e vozes femininas. “Minha terra tem cantigas nas ruas em profusão / Que o vento passando leva diretas pro coração...” É de se orgulhar de ser Brasileiro!


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01 Olha-me Bem nos Olhos [Joubert de Carvalho, Aldemar Tavares] canção
02 Hula [Joubert de Carvalho, Olegário Mariano] valsa
03 Nhá Maria [Joubert de Carvalho] tanguinho
04 Maringá [Joubert de Carvalho] canção
05 De Papo Pro Á [Joubert de Carvalho, Olegário Mariano] cateretê
06 Taboada [Joubert de Carvalho, Adelmar Tavares] canção
07 Dor [Joubert de Carvalho] canção
08 Cantigas de Minha Terra [Joubert de Carvalho] canção

Orquestra, Côro e Pequeno Conjunto regidos pelo Maestro Léo Peracchi

18/11/2008

Daisy Guastini 1959 Compacto-Duplo 45 rpm [Arpége AEP 1003]

Foi dito que a voz humana é o mais belo instrumento musical que existe. Humildemente confirmamos a afirmação. No entanto, é triste descobrir que o descaso histórico com nossa produção musical, tenha relegado vozes como a de Daisy Guastini a um incompreensível esquecimento. Um atentado à cultura... Ainda bem que há pessoas obstinadas nas tarefas de redescoberta e de tornar acessíveis tais tesouros musicais. Discos como este, esquecidos em coleções particulares, ou sebos empoeirados, ficariam para sempre como objetos inúteis se decompondo no tempo. Usando a tecnologia do presente para resgatar a música do passado, prestamos serviço incontestável para a preservação da nossa própria cultura musical.

Temos aqui mais um tesouro: a voz de Daisy Guastini. Cantora nascida no estado de Minas Gerais, que iniciou sua carreira nos anos 50, como locutora e radioatriz da Rádio Inconfidência, e apresentadora da TV Itacolomi, ambas emissoras de Belo Horizonte. Casou-se com o compositor e guitarrista Nazário Cordeiro, união que gerou a filha Daisy Cordeiro, também cantora. Atuou em emissoras do Rio de Janeiro e de São Paulo e gravou pelos selos Arpége e RGE. Daisy Guastini ainda se apresenta ao vivo, em 2005 organizou um tributo à grande Isaurinha Garcia.

Aqui, ela interpreta alguns sambas-canção sofridos com personalidade ao lado do conjunto do pianista Waldir Calmon, também dono do selo Arpége. Seu marido, o guitarrista Nazário Cordeiro comparece tocando guitarra elétrica e violão. Ao lado de um conjunto intimista, com repertório e arranjos apropriados, a voz da cantora cresce, num resultado de elegância e extremo bom gosto. Ouso dizer que está aqui a melhor versão já gravada para o clássico “O Que Tinha Que Ser”, de Antônio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes. Há ainda outra canção de Jobim “Esquecendo Você”, onde a cantora destila calma, a tristeza que irá “ter que aprender a viver sozinha na solidão... eu vou ter que passar minha vida esquecendo você...” e no meio do caminho o samba-canção arrastado vira um fox marcado pelo piano do Calmon, numa alegria inusitada.

De Fred Chateaubriand e Vinicius de Carvalho“Noite Triste Sem Ninguém” com belo arranjo para violão e piano - combinação difícil, que resulta em perfeição. A bossa de Daisy Guastini e a bela melodia completam a beleza: “...embora vendo-te presente, ao redor tudo desmente / o que os sonhos meus contém / é faz-de-conta somente / noite triste sem ninguém...” E o piano e o violão ainda solam, com um vibrafone discreto completando a maravilha.

Para não terminar o disquinho no completo baixo astral - apesar de belíssimo - há o samba-canção de José Braz de Andrade, o “Delé”, “Basta A Luz da Lua”, onde desta vez finalmente, o amor é correspondido, marcando a esperança de dias felizes. Vibrafone, violão e o piano na bossa perfeita de um conjunto de “cool samba-canção”, apenas como suporte luxuoso para a voz limpa e aveludada da Daisy Guastini: “...basta a luz da lua, pra iluminar a nossa estrada / tendo nos meus lábios, esta canção apaixonada / dentro do meu coração, as palavras que nascem com grande emoção / vem expressar com razão, toda grandeza de minha paixão... / e assim eu vou convencida / sonhando estar nesta vida / nos seus braços embalada / canção que me faz feliz / neste estribilho que diz / basta a luz da lua e não precisa de mais nada...” Sem palavras.

Daisy Guastini 1959 Compacto-Duplo 45 rpm [Arpége AEP 1003]

01 Porque Tinha de Ser [Antônio Carlos Jobim, Vinicius de Moraes] samba-canção
02 Noite Triste Sem Ninguém [Fred Chateaubriand, Vinicius de Carvalho] samba-canção
03 Esquecendo Você [Antônio Carlos Jobim] samba-canção
04 Basta a Luz da Lua [José Braz de Andrade "Delé"] samba-canção

Roberto Luna 1957 "Molambo" [Odeon BWB 1086]

Dono de um vozeirão Roberto Luna, nasceu em Serraria, Paraíba, em 01.12.1926, e era chamado de “uma voz para milhões”. Morando no Rio de Janeiro desde 1945, iniciou como cantor em teatro de revistas, logo se tornando crooner de diversas casas de shows na cidade. Em 1951 foi contratado pela Rádio Guanabara, depois também atuou nas rádios Globo, Mayrink Veiga e Nacional. Na mesma época gravou seus primeiros discos em 78 rpms. Versátil, se destacava tanto nos sambas carnavalescos, marchas e sincopados, como nos sambas-canção, boleros, tangos e canções românticas. Fez grande sucesso na década de 50, deixou fonogramas gravados na Star, Musidisc, Odeon, RGE e Philips.

Este disquinho saiu pela Odeon, quatro faixas em 45 rotações, e capinha especial com lettering do grande César G. Villela. Apenas uma das faixas já havia sido lançada anteriormente, “Molambo” de Jaime Florence e Augusto Mesquita, na mesma gravação, mas em versão estendida no disco de 10 polegadas “Uma Voz Para Milhões” [Odeon MODB 3063] lançado em 1956.

Nos arranjos, não creditado no disquinho, está o maestro Luiz Arruda Paes, conduzindo orquestra e côro com a destreza e o capricho que lhe era habitual. O repertório curiosamente passeia por canções que se imortalizaram em vozes femininas. “Molambo”, “Caminha” [de Rolando Candiano e Evaldo Ruy, sucesso na voz de Elizeth Cardoso], a famosa “Conselho” de Oswaldo Gulherme e Denis Brean, e a belíssima “Alucinação” samba-canção de Newton Teixeira e Macieira Nascimento. Um registro muito caprichado, dos melhores gravados por Roberto Luna.
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01 Molambo [Jayme Florence, Augusto Mesquita] samba-canção
02 Caminha [Rolando Candiano, Evaldo Ruy] samba-canção
03 Conselho [Denis Brean, Oswaldo Guilherme] samba-canção
04 Alucinação [Newton Teixeira, Macieira Nascimento] samba-canção

Orquestra e Côro regidos pelo Maestro Luiz Arruda Paes

17/11/2008

Carnaval em Bossa [BRLP 002]

Começamos com a reedição da coletânea “Carnaval em Bossa”, depois de muito tempo fora do ar, ela volta com nova capa e ajustes no som. Agradeço a paciência dos amigos que nunca deixaram de pedir pela reedição.

“Através da música, o Carnaval do passado pode ser revisto. Algumas das marchas e sambas carnavalescos que se tornaram célebres - na verdade a sua grande maioria - não atravessaram o tempo. É uma produção que ainda está a ser descoberta. O blog Bossa-Brasileira produziu uma coletânea, com exemplos deste rico painel musical, também uma indicação de pesquisa. Aqui, apenas um singelo exemplo, um pequeno painel do que de melhor foi gravado em música de Carnaval no Brasil. São em sua maioria marchinhas, alegres ou melancólicas e alguns sambas. Todos representantes legítimos do som que se fazia e se ouvia no Carnaval Brasileiro de outras épocas.”

“Uma das preferidas da casa Aurora Miranda comparece em quatro faixas, irresistível como sempre. Sua irmã Carmen Miranda, em três - incluindo a impagável “Good-bye” [de Assis Valente]. Há outra Carmen - a Barbosa - que bela voz ela revela e que sincopado! As Irmãs Pagãs também destilam sua beleza. E que dizer da voz de Lolita França em “Tahí” [Joubert de Carvalho]... Era a bossa de 1939... Há também os cantores, os obrigatórios Francisco Alves, Mário Reis, Almirante e Orlando Silva. Carlos Galhardo também é um dos preferidos da casa, ouçam “Mariposa” [de João da Baiana, Wilson Batista] e tirem suas próprias conclusões. A malandragem também não poderia ficar de fora, neste quesito temos Vassourinha, Noel Rosa ao lado de Marília Batista e a inacreditável Dora Lopes. Para não falarem que o samba é somente carioca temos também a graça de Isaurinha Garcia. Alguns dos melhores intérpretes e muitos dos melhores compositores: Assis Valente, Herivelto Martins, Benedito Lacerda, Ismael Silva, Noel Rosa, Lamartine Babo, Wilson Batista, Haroldo Barbosa, Custódio Mesquita, Antônio Almeida e outros, a lista é longa. Este é “Carnaval em Bossa”, um belo presente!”

“Carnaval em Bossa” [BRLP 002]

01 Lolita França “Pra Você Gostar de Mim [Tahi]” [Joubert de Carvalho] 1939
02 Aurora Miranda “Que Horas São Estas” [A. Almeida, O. Santiago] 1939
03 Almirante “História do Brasil” [Lamartine Babo] 1933
04 Dora Lopes “Velho Borocochô” [Dora Lopes, J. Batista, N. Viana] 1954
05 Almirante “Menina Oxigenê” [Hervê Cordovil, Lamartine Babo] 1933
06 Carmen Miranda “Good-Bye” [Assis Valente] 1932
07 Irmãs Pagãs “Água Mole em Pedra Dura” [M. Moreira, S. de Mello] 1939
08 Carmen Barbosa “Loteria do Amor” [Aldo Cabral, Benedito Lacerda] 1940
09 Orlando Silva “A Primeira Vez” [Marçal, Armando, Bide] 1940
10 Aurora Miranda “Quando a Lua Vem Saindo” [Alberto Ribeiro] 1938
11 Carlos Galhardo “Mariposa” [João da Baiana, Wilson Batista] 1940
12 Aurora Miranda “Não Vejo Jeito” [Ismael Silva] 1939
13 Carmen Miranda “E o Mundo Não Se Acabou” [Assis Valente] 1938
14 Dalva de Oliveira & Francisco Alves “Andorinha” [H Barbosa, H Martins] 1945
15 Aurora Miranda “Se a Lua Contasse” [Custódio Mesquita] 1933
16 Vassourinha “Chik Chik Bum” [Antônio Almeida] 1941
17 Carmen Miranda “Ao Voltar do Samba” [Sinval Silva] 1934
18 Carmen BarbosaNo Picadeiro da Vida” [B. Lacerda, H. Martins] 1937
19 Quatro Ases e Um CoringaMarcha do Caracol” [A. Teixeira, Peterpan] 1950
20 Mário ReisMais Uma Estrela” [B. de Oliveira, H. Martins] 1934
21 Francisco AlvesVai Meu Samba” [Custódio Mesquita] 1936
22 Isaurinha Garcia “O Sorriso do Paulinho” [Gastão Viana, Mário Rossi] 1942
23 Aurora Miranda “Mania de Malandro” [Herivelto Martins] 1938
24 Noel Rosa & Marília Batista “De Babado” [João Mina, Noel Rosa] 1936

16/11/2008

3 anos de Bossa-Brasileira!

Neste Novembro de 2008 o blog Bossa-Brasileira completa 3 anos. Vimos nascer e crescer um universo de blogs e sites enfocando a música brasileira de outros tempos, outros fecharam as portas e deixaram saudades. De nossa parte, concluímos que mesmo impossibilitados de uma grande freqüência de posts, possuímos admiradores fiéis, o que nos incentiva a continuar sempre, apesar de todas as dificuldades. O blog passou por mudanças, reformas, todos os links estão no ar e novos posts entrarão nos próximos dias. Um grande abraço a todos, e feliz aniversário!