28/02/2008

Lenita Bruno 1968 Lenita Bruno em Hollywood [Fermata FB 235]

Entre os muitos discos de bossa nova gravados nos Estados Unidos depois de 1965 há aqueles que realmente impressionam. Abraçada comercialmente por nossos vizinhos, a bossa nova impulsionou a indústria fonográfica norte americana ao lado do rock, firmando os dois estilos como principais produtos do comércio de discos na época. As gerações acostumadas à música mais sofisticada, como o jazz, tiveram na bossa uma injeção de ar puro e renovação. Muita música boa de verdade foi produzida e gravada, assim como muita coisa descartável. Nossa bossa foi trilha para ajudar a vender diversos produtos, de refrigerantes a passagens aéreas, de balas e chocolates a toalhas de banho, não havia limite para a imaginação dos nossos vizinhos. Tudo era bossa nova. Alguns artistas brasileiros embarcaram na onda e tivemos uma grande evasão de talentos atrás de melhores condições de trabalho. Muitos destes se entregaram ao sistema comercial, mas outros insistiram na arte. Luiz Henrique, Walter Wanderley e Lenita Bruno fizeram parte deste segundo grupo.

Lenita Bruno, treinada no canto lírico e intérprete de canções do universo musical norte americano durante as décadas de 40 e 50, abraçou a bossa nova com muita beleza e sofisticação em seus discos gravados nos Estados Unidos. Depois de deixar dois LPs clássicos como “Por Toda a Minha Vida” e “Modinhas Fora de Moda” [do selo Festa], Lenita partiu em 1964 e gravou com nomes como Laurindo de Almeida, Bud Shank, Claire Fisher e outros.

Este LP foi gravado em Hollywood, a edição nacional lançada em 1968 pelo selo Fermata [FB 235] omitiu como de costume, os nomes dos músicos e arranjadores. Mas é bastante possível que estejam presentes o órgão de Walter Wanderley [o toque inconfundível] e a bateria do mestre Paulinho. Com letras traduzidas para o inglês Lenita canta clássicos de Jobim [“Este Seu Olhar”, “Desafinado” e “Chega de Saudade”], Dorival Caymmi [“Acalanto”], Chico Buarque de Hollanda [“A Banda”, “Carolina” e “Tem Mais Samba”], Dolores Duran [“A Noite do Meu Bem”], Djalma Ferreira e Luis Antônio [“Cheiro de Saudade” e “Murmúrio”] e outros. Tudo emoldurado por belos arranjos com destaque para os metais, percussão, piano e órgão hammond marcantes. Um clássico. Agradecimentos ao Sr. Clóvis de Curitiba por ceder sua cópia para a nossa masterização digital.

Lenita Bruno 1968 Lenita Bruno em Hollywood [Fermata FB 235]


01 All I Need Is All I Want [Tem Mais Samba] [C. Buarque, vrs. M. Bergman, vrs. A. Bergman]
02 Off Key [Desafinado] [Jobim, Mendonça, Vrs. G. Lees]
03 That Look You Wear [Este Seu Olhar] [Antônio Carlos Jobim, vrs. G. Lees]
04 Summer Flower [Carolina] [Chico Buarque de Hollanda, vrs. C. M. Jones, vrs. N. Green]
05 Stay My Love [Dá-me] [Adilson Godoy, vrs. F. Jay]
06 Velvet [A Noite do Meu Bem] [Dolores Duran, vrs. F. Landesman]
07 No More Blues [Chega de Saudade] [Jobim, de Moraes, vrs. J. Hendricks, vrs. J. Cavanaugh]
08 Sleep My Dear One [Acalanto] [Dorival Caymmi, vrs. L. Hayton]
09 Taste Of Sadness [Cheiro de Saudade] [Djalma Ferreira, Luis Antônio, vrs. N. Miller]
10 One Heartache Ago [Murmúrio] [Djalma Ferreira, Luis Antônio, vrs. B. Raleigh]
11 Marching Along With The Band [A Banda] [C. Buarque, vrs. R. Cowen, vrs. L. Kerr]

07/02/2008

Luiz Cláudio 1959 Luiz Cláudio [RCA Victor BBL 1065]

LP espetacular, registra a maturidade artística de Luiz Cláudio, importante compositor e cantor que atuou da década de 50 até o início dos anos 80. Nascido em Minas Gerais, Luiz Cláudio ainda menino formou seu primeiro trio vocal. “Descoberto” por um produtor de rádio, passa a cantar na capital Belo Horizonte. A transição aos discos foi rápida e já com suas próprias composições. Acompanhando-se com um violão discreto e cantando de maneira mansa e voz aveludada, Luiz Cláudio teve influência de Lúcio Alves, Dick Farney e Tito Madi, além dos cantores de fox norte-americanos escutados através do rádio. Sua música chamou a atenção rapidamente da juventude e se tornou grande sucesso. Atuou em um programa próprio de TV e despontou como cantor romântico de bom gosto e compositor privilegiado, gravando sambas, sambas-canção, bossa nova, toadas, fox, jazz, música regional e até mesmo rock. Este disco registra a encruzilhada em que estava a música brasileira no momento que surgia a bossa nova. João Gilberto já havia gravado, e há algum tempo apareciam aqui e ali, os sambas sincopados com a nova batida. Luiz Cláudio embarcou na onda antes mesmo dela se formar e gravou neste LP, no ritmo novo a faixa “Menina Feia” de Oscar Castro Neves e Luvercy Fiorinni, autores da clássica “Chora Tua Tristeza”. O arranjo foi feito de improviso, “sem partes escritas” como diz o encarte - ninguém sabia direito o que era que estes rapazes estavam gravando. O resultado é fantástico.

Panorama variado, o LP possui arranjos orquestrais exuberantes, especialmente em “Amor Sem Adeus” de Luiz Bonfá e Antônio Carlos Jobim - onde uma dimensão inesperada parece tomar conta do som, arranjo de Mozart Brandão. Efeito semelhante há em “Noite de Ficar Sozinho” de autoria do próprio Luiz Cláudio com arranjo do maestro Nelsinho. Há ainda a balada “Meu Anjo Azul”, versão de Fred Jorge para “My Blue Angel” sucesso de Glen Stuart. A parceria entre Luiz Cláudio e o grande Fernando César, rendeu “História”, com arranjo latino do maestro Carioca - destaque no piano. “Carinho e Amor” sucesso de Tito Madi, também ganha arranjo sincopado. O fox intimista “Eu, Você e o Luar” de Hilário Alves e Celso Garcia, foi gravado apenas com violão, voz e um trombone - arranjo radical do Nelsinho, de clima enfumaçado de cabaré. O lado B do disco abre com a ótima guarânia - ritmo regional com raízes no Paraguai - “Oração de Amor” de autoria de Arsênio de Carvalho e Lourival Faissal. Melodia linda emoldurada por arranjo perfeito ao clima da canção. O disco volta ao samba-canção com “Só Deus”, sucesso de Evaldo Gouveia e Jair Amorim, com uma combinação do registro grave da voz do Luiz Cláudio com arranjo perfeito pontuado por oboés e flautas. Sucesso também na voz de Maysa. Seguem ainda a bossa “Vou Fazer um Samba” novamente de Evaldo Gouveia. O fox em clima de big-band de Getúlio Macedo, “A Canção do Inverno”. O bolero de Floriano Faissal e Bruno Marnet, “Desencanto” traz belo naipe de metais, e finalmente o LP encerra com o grande destaque já citado: “Amor Sem Adeus”.

Luiz Cláudio lançado em 1959, pela RCA Victor [catálogo BBL 1065] é um dos muitos discos antológicos que foram lançados naquele último ano da década, como que abrindo espaço para as novas sonoridades que seriam absorvidas pela música popular brasileira a partir daí.

Luiz Cláudio 1959 Luiz Cláudio [RCA Victor BBL 1065]

01 Noite de Ficar Sozinho [Luiz Cláudio]
02 Menina Feia [Oscar Castro Neves, Luvercy Fiorinni]
03 Meu Anjo Azul [My Blue Angel] [Glenn Stuart, versão Fred Jorge]
04 História [Luiz Cláudio, Fernando César]
05 Carinho e Amor [Tito Madi]
06 Eu, Você e o Luar [Hilário Alves, Celso Garcia]
07 Oração de Amor [Arcenio de Carvalho, Lourival Faissal]
08 Só Deus [Evaldo Gouveia, Jair Amorim]
09 Vou Fazer Um Samba [Evaldo Gouveia, Almeida Rêgo]
10 Canção do Inverno [Getúlio Macedo]
11 Desencanto [Floriano Faissal, Bruno Marnet]
12 Amor Sem Adeus [Luiz Bonfá, Antônio Carlos Jobim]

Orquestra regida pelo Maestro Zaccarias
sob Arranjos de Nelsinho, Carioca, e de Luiz Cláudio